10.11.08

Las Mujeres (2) - Gabriela


COSAS
1

Amo las cosas que nunca tuve
con las otras que ya no tengo:

Yo toco un agua silenciosa,
parada en pastos friolentos,
que sin un viento tiritaba
en el huerto que era mi huerto.

La miro como la miraba;
me da un extraño pensamiento,
y juego, lenta, con esa agua
como con pez o con misterio.


2

Pienso en umbral donde dejé
pasos alegres que ya no llevo,
y en el umbral veo una llaga
llena de musgo y de silencio.

(Gabriela Mistral - Vicuña, Chile, 7/4/1889-Nova York, EUA, 10/1/1957 - in Antologia de la Poesía Hispanoamericana Contemporanea 1914-1970, Alianza Editorial, 1981, 6ª ed.)

Boa leitura (9) A imaginação faz a mágica de Oz


Em novo livro, o aclamado autor israelense leva o leitor para dentro da cabeça de um escritor

No ano passado, quando participou da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), o escritor israelense Amós Oz contou no “Roda Viva”, da TV Cultura, que na infância foi um garoto extremamente fantasioso, dono de um mundo à parte. E revelou: “Sou um homem de fantasias. Ainda hoje, se você me prender, ficarei infeliz, mas não entediado. Terei coisas na cabeça para me manter ocupado por anos.”

A leitura de “Rimas da Vida e da Morte” não deixa dúvida sobre isso. Metalingüística ao extremo, verdadeira exaltação do ato da criação literária, essa novela é também, e por isso mesmo, uma lição para aspirantes a escritor. Trata — com bastante ironia, aliás — exatamente do que se passa na cabeça de um escritor quando mais uma vez, no caso em algum lugar de Israel, nos anos 1980, tem de participar de um encontro com os leitores e responder a perguntas em geral previsíveis e superficiais.

O protagonista, com certeza alter ego de Oz, foge do tédio da ocasião pela via da imaginação — um exercício que começa num bar, antes de ele ir para o local do encontro — e, enquanto o ridículo líder da comunidade o apresenta ao público, seguido por um “especialista” que se esmera em fazer uma análise “profunda” de sua obra, distrai-se imaginando nomes e biografias para pessoas da platéia que lhe chamam a atenção, compondo, na verdade, nova obra, esta que o leitor tem em mãos, na qual não falta nem mesmo um ardente encontro erótico. As histórias se misturam a tal ponto que a ficção é que passa a ditar a realidade.

“Rimas da Vida e da Morte” - Amós Oz - Companhia das Letras, 120 págs., R$ 31,00

Publicado no caderno "EU&Fim de Semana" do jornal "Valor" em 26/9/2008

3.11.08

Boa leitura (8) Abaixo o império americano


Historiador ataca políticas do seu país

Neste ano de disputa eleitoral nos Estados Unidos, assim como de crise econômica, é muito esclarecedor este ''Apologia dos Bárbaros - Ensaios contra o Império", do historiador e ensaísta americano Mike Davis, para quem deseja saber a fundo o que ocorre no país cujos governantes, há tempos, tentam submeter o restante do planeta às suas diretrizes.

Partindo do terrível atentado terrorista de 11 de setembro de 2001 às torres gêmeas do World Trade Center, o autor, antiimperialista ferrenho, critica tanto a política interna adotada por seu país quanto a externa. São 47 textos escritos de 2001,a 2007, entre ensaios, alguns já publicados na imprensa, e conferências. O livro traz também uma entrevista que Davis concedeu à revista "Radical History". A edição brasileira tem um bônus: as charges do carioca Carlos Latuff, ele também um critico do imperialismo americano.

O livro "se propõe a celebrar a contranarrativa dos que não pertencem à autoproclamada 'civilização' hegemômca (os quais, portanto, inserem-se automaticamente na categoria amorfa da barbárie), os excluídos da nova Roma do Potomac, nas palavras de Mike Davis", explica Paulo Daniel Farah, professor da Universidade de São Paulo, na apresentação, em que também ressalta: "Nos ensaios, acompanhados de atualizações e comentários reformulados acerca do tema abordado, Davis lança um alerta contra o perigo do popular chavão 'qualquer um, menos Bush' e não poupa criticas a republicanos e democratas.

Assim, a "guerra contra o terror" empreendida por George W. Bush e as intervenções no Afeganistão e no Iraque são alvo do historiador, em especial na parte inicial de "Apologia dos Bárbaros". Já no primeiro ensaio, a respeito da idéia de que com o 11 de Setembro os EUA "colheram o que semearam" lemos: "As vítimas do massacre do WTC - secretárias, contadores, entregadores de lojas de conveniência,lavadores de janelas, corretores da bolsa e bombeiros - não conceberam ou implementaram nossas políticas secretas, antidemocráticas e criminosas no mundo muçulmano.

Na seqüência, ele relaciona uma série de arbitrariedades do governo americano no Oriente Médio. "'Made in USA' é a marca que se vê em alguns dos episódios mais sinistros da história recente nessas terras ancestrais", constata, mas não atribui toda a culpa ao país. Por isso pergunta: "Quem pode negar que o principal obstáculo estrutural a qualquer tipo de mudança socioeconômica duradoura nessa região é a profana e inexpugnável aliança entre as companhias de petróleo, os fabricantes de armas americanos, o sionismo de direita e as abastadas classes dominantes da península árabe?"

Na segunda parte, Davis, que é professor de História da Universidade da Califórnia, em Irvine, faz um relato impressionante sobre os instrumentos de que a humanidade já dispõe para uma guerra tecnológica, publicado originalmente em 2004 na "Socialist Review" sob o título "War-Mart": "Os noticiários sem dúvida se concentrarão na parafernália de ficção científica [a ser usada em breve] envolvida - bombas termobáricas, armamento de microondas, veículos aéreos que dispensam controle humano (UAVs), robôs PackBot, veículos de combate Stryker, e assim por diante.

A guerra, porém, não é tudo. Estudioso também de urbanismo e ecologia, aborda, ainda, a questão do aquecimento global, dos desastres "naturais" - com destaque para a negligência do governo em relação à Nova Orleans destruída pela tempestade Katrina em 2004-, das pandemias, como a de gripe aviária, dos problemas urbanos, do sistema penitenciário - em suma, nada do que é importante escapa de sua análise acurada nem de sua potente metralhadora verbal.

"Apologia dos bárbaros - Ensaios contra o Império" - Mike Davis - Boitempo, 352 págs., R$ 49,00

Publicado no caderno "EU&Fim de Semana" do jornal "Valor" em 4/4/2008

2.11.08

Las Mujeres (1) - Alfonsina


LA DULCE VISIÓN

¿ Dónde estará lo que persigo ciega?
– Jardines encantados, mundos de oro –
Todo lo que me cerca es incoloro.
Hay outra vida. ¿ Allí cómo se llega?

Un perfume divino el alma anega:
Olor de estrellas, un rosado coro
De Dianas fugitivas; el esporo
Viviente aún de la delicia griega.

¿ Dónde estará ese mundo que persigo?
El sueño voluptuoso va conmigo
Y me ciñen las rosas de su brazo.

Y mientras danzo sobre el césped fino
Fuera del alma acecha mi destino
Y la Gran Cazadora mueve el lazo.


(Alfonsina Storni - Sala Capriasca, Suíça, 29/5/1892-Mar del Plata, 25/10/1938 - in Poesia Selecta - Edicomunicación, 1995)