10.11.08

Boa leitura (9) A imaginação faz a mágica de Oz


Em novo livro, o aclamado autor israelense leva o leitor para dentro da cabeça de um escritor

No ano passado, quando participou da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), o escritor israelense Amós Oz contou no “Roda Viva”, da TV Cultura, que na infância foi um garoto extremamente fantasioso, dono de um mundo à parte. E revelou: “Sou um homem de fantasias. Ainda hoje, se você me prender, ficarei infeliz, mas não entediado. Terei coisas na cabeça para me manter ocupado por anos.”

A leitura de “Rimas da Vida e da Morte” não deixa dúvida sobre isso. Metalingüística ao extremo, verdadeira exaltação do ato da criação literária, essa novela é também, e por isso mesmo, uma lição para aspirantes a escritor. Trata — com bastante ironia, aliás — exatamente do que se passa na cabeça de um escritor quando mais uma vez, no caso em algum lugar de Israel, nos anos 1980, tem de participar de um encontro com os leitores e responder a perguntas em geral previsíveis e superficiais.

O protagonista, com certeza alter ego de Oz, foge do tédio da ocasião pela via da imaginação — um exercício que começa num bar, antes de ele ir para o local do encontro — e, enquanto o ridículo líder da comunidade o apresenta ao público, seguido por um “especialista” que se esmera em fazer uma análise “profunda” de sua obra, distrai-se imaginando nomes e biografias para pessoas da platéia que lhe chamam a atenção, compondo, na verdade, nova obra, esta que o leitor tem em mãos, na qual não falta nem mesmo um ardente encontro erótico. As histórias se misturam a tal ponto que a ficção é que passa a ditar a realidade.

“Rimas da Vida e da Morte” - Amós Oz - Companhia das Letras, 120 págs., R$ 31,00

Publicado no caderno "EU&Fim de Semana" do jornal "Valor" em 26/9/2008