14.8.09

Las Mujeres (8) - Josefina


TÚ EN EL ALTO BALCÓN...


Tú en el alto balcón de tu silencio,
yo en la barca sin rumbo de mi daño,
los dos perdidos por igual camino,
tú esperando mi voz y yo esperando.
Esclavo tú del horizonte inútil,
encadenada yo de mi pasado.
Ni silueta de nave en tu pupila,
ni brújula y timón para mis brazos.
En pie en el alto barandal marino
tú aguardarías mi llegada en vano.
yo habría de llegar sobre la espuma
en el amanecer de un día blanco.
Pero el alto balcón de tu silencio
olvidó la señal para mi barco.
Y me perdí en la niebla de tu encuentro
– como un pájaro ciego –, por los años.


(Josefina de la Torre - Las Palmas de Gran Canaria, 1907−Madri, 2002, in Medida del Tiempo, 1989)

Boa leitura (30) - Saramago em tempo real

O lado blogueiro do Nobel de Literatura

Saramago com a mulher, Pilar, que o incentivou a escrever num blog: “Sou um escritor livre que se exprime tão livremente quanto a organização
do mundo que temos lho permite”

Um escritor deve escrever bem, o melhor que puder, e “intervir, intervir e intervir”, como ressalta o Prêmio Nobel de Literatura de 1998, José Saramago, que já o fazia em tempo integral e agora se dedica a isso, pode-se dizer, em tempo real, no seu blog, hospedado no seu belo site. Pois seis meses dessa aventura quase diária pela “página branca da internet” — de setembro, quando inaugurou o blog, a março — acabam de render um livro nos moldes dos seus “Cadernos de Lanzarote”, intitulado, justamente, “O Caderno”.

Provocador, sarcástico, atento observador do que ocorre hoje no planeta, Saramago permanece fiel às ideias que vem defendendo há anos em artigos para a imprensa, entrevistas e, claro, nos seus livros. Seus posts, que tratam de variados assuntos e em especial de política internacional, já causaram polêmica. Um deles lhe rendeu um problema com sua editora na Itália, a Einaudi, do primeiro-ministro Silvio Berlusconi. Totalmente contra seu governo e suas atitudes, o escritor português o chamou de mafioso e delinquente.

“Sou um escritor livre que se exprime tão livremente quanto a organização do mundo que temos lho permite”, define-se, em texto que começa falando do nazista Adolf Eichmann e termina reprovando a cúpula vaticana.

O autor do conhecido “Ensaio sobre a Cegueira”, levado à tela sob direção do brasileiro Fernando Meirelles (a história do filme é comentada neste “Caderno”), também não esconde sua oposição ao presidente da França, Nicolas Sarkozy (diga-se de passagem, não oculta antipatias), e ocupa-se várias vezes em atacar George W. Bush.

É um frio analista da globalização, crítico contundente da condução da questão palestina por Israel, das guerras religiosas e da destruição do ambiente, entre outros problemas. Alerta que o que se chama, hoje, de democracia, não passa de uma “plutocracia que deixou de ser local e próxima para tornar-se universal e inacessível” aos povos. Esquerdista às vezes exagerado, não poupa nem mesmo os que têm a mesma opção política: “A esquerda continua sem ter uma puta ideia do mundo em que vive”.

Por outro lado, manifesta esperança em Barack Obama, fala de pessoas que lutam pela paz, de fatos autobiográficos, como sua visita ao Brasil em novembro, trata de literatura e tece grandes elogios para Chico Buarque e o jovem escritor português Gonçalo M. Tavares, para quem vaticina um Nobel daqui a 30 anos.

Incansável, Saramago continua a atualizar o blog. Já afirmou que vai haver um “Caderno II” ainda neste ano.


“O Caderno” - José Saramago - Companhia das Letras, 224 págs., R$ 45,00

Publicado no caderno "EU&Fim de Semana" do jornal "Valor" em 7/8/09