3.7.09

Boa leitura (27) - Todos os caminhos levam a Paris

A “capital dos parísios” em obra monumental


Pont Neuf, a "Torre Eiffel do Ancien Régime”: “Você já viu Paris em imaginação — e provavelmente passou a amá-la”, escreve historiador

Da antiga Lutécia à atual Paris, com uma passagem pela pré-histórica e enigmática Bercy. A “capital dos parísios”, como a chamou o imperador romano Juliano em 358, pulsa em constante evolução — daí ganhar, como um ser vivo, uma “biografia” do historiador inglês Colin Jones, não uma simples história.

Professor na Universidade de Londres Queen Mary e especialista na França, Jones escreveu esta obra monumental não para seus colegas, mas para as pessoas que, a exemplo de milhões de outras ao longo dos séculos, são fascinadas pela Cidade Luz, conhecendo-a de perto ou não. Pois, como registrou o escritor italiano Edmondo De Amicis, em frase usada como uma das epígrafes do livro, “nunca vemos Paris pela primeira vez; sempre a vemos de novo” — de tanto que ela foi descrita, retratada e evocada em romances e outros livros, pinturas, músicas e, mais recentemente, filmes.

“Durante séculos, Roma e Londres atraíram hinos e louvores, mas também causaram bastante desapontamento e desilusão”, escreve o historiador. “Nova York pareceu ganhar importância apenas no século XX. Se você quiser, pode conhecer Nápoles e morrer, mas não precisa ver Paris com os próprios olhos, pois, como explicou De Amicis, você já a viu em imaginação — e provavelmente passou a amá-la.”

Autor do elogiado “The Great Nation: France from Louis XV to Napoleon”, Jones põe os leitores em contato com dois mil anos de história parisiense em ordem cronológica e linguagem clara e fluente. Passam diante dos olhos as paisagens antigas e atuais dessa cidade que se espraiou em espirais a partir de seu coração, a Île de la Cité, chegando aos 20 “arrondissements” de hoje, circundados desde os anos 60, por sua vez, por um “boulevard périphérique”. Nesse espaço se desenrolaram guerras, revoluções, manifestações como a de maio de 1968, mas também se lançaram e ainda se lançam ideias, modas, movimentos culturais e científicos propostos tanto por franceses como por estrangeiros que adotam a cidade e são adotados por ela.

Assim, vários fatos e personalidades ganham destaque em janelas cinza abertas em meio aos capítulos. Nelas figuram temas como a vida do pouco lembrado Robert de Sorbon, fundador da célebre Sorbonne; as modificações por que passou o Louvre; a construção da Pont Neuf, “a Torre Eiffel do Ancien Régime”, e da própria torre; a atuação de Rose Bertin, estilista de Maria Antonieta; e o fascínio dos americanos por Paris simbolizada pela figura de Josephine Baker, que cantava “J’ai deux amours, mon pays et Paris”.

Ao final, e admitindo ser praticamente impossível dar conta de uma história completa, Jones fala do futuro de Paris, de problemas que ela vem enfrentando e dos projetos para este século. Ilustrações em preto-e-branco, mapas, glossário, dados sobre prédios característicos e a população — hoje de pouco mais de 2 milhões de pessoas — e guia bibliográfico completam a edição. Bon voyage!


“Paris: Biografia de uma Cidade” - Colin Jones - L&PM, 592 págs., R$ 94,00

Publicado no caderno "EU&Fim de Semana" do jornal "Valor" em 5/6/09