18.4.09

Num abril já longínquo


Guardo ainda, como um pasmo
Em que a infância sobrevive,
Metade do entusiasmo
Que tenho porque já tive.

Quasi às vezes me envergonho
De crer tanto em que não creio.
É uma espécie de sonho
Com a realidade ao meio.

Girassol do falso agrado,
Em torno do centro mudo
Fala, amarelo, pasmado
Do negro centro que é tudo.


18/4/1931

(Fernando Pessoa in Poesia - 1931-1935, Companhia das Letras, 2009)

1 Comments:

At 18/4/09 12:53, Blogger Katrina disse...

Melhor que Camões.

 

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