Noite de Verão - 1
Sensual
sangüínea
silenciosa
a lua pulsa
misteriosa
ó lua cítrica
pequena e bela
hoje despida
de seus brilhantes
boca vermelha
falando nuvens
e o alfabeto
das madrugadas
discreta dança
a sua música
caliente luna
singrando a treva
quase translúcida
em sua túnica
quase escondida
em sua esfera
insinuante
âmbar celeste
lua madura
serena e pura
nave do verso.
(Do meu livro Inventário da Solidão, ed. Giordano, 1998)
2 Comments:
singrando a treva
"começa a ir ser dia,*
O céu negro começa,
Numa menor negrura
Da sua noite escura,
A ter uma cor fria
Onde a negrura cessa.
/.../
Em vão, em vão, e o céu
Azula-se de verde
Acinzentadamente.
Que é que a minha alma sente?
Nem isto, não, nem eu,
Na noite que se perde"
Original manuscrito, não assinado, mas por baixo da data há as iniciais a.m. Pessoa escrevia também sob o heterônimo pouco divulgado, Antonio Moura a quem, aliás, normalmente, atribuía textos de prosa.
MENSAGEM, FERNANDO PESSOA, EDITORA NOVA FRONTEIRA, RJ, 1981.
Adorei "singrar as trevas",
um beijo.
o inverso do sonho
submerso
e estranho
esse real
em que
me arranho
abs de arrudA
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